terça-feira, agosto 21

Por uma realidade de unidade sem romantismo // Anderson Bomfim




REFLEXÕES SOBRE UNIDADE

Desejo muito me tornar um homem completo em Deus, acreditando que essa busca não me torna uma pessoa autônoma dos meus irmãos. À medida que me completo em Deus e no meu próximo, espero alcançar um nível de realização pessoal ainda desconhecido por mim. Por esse motivo, agradeço a Deus pela minha falta de carisma, personalidade, liderança, auto confiança, visão, agradeço por ser totalmente limitado e depender de uma ação e realização corporativa. Essa fraqueza pessoal confirma minha missão de mobilizar uma geração, essa é a palavra que eu carrego, é a causa pela qual dou minha vida, cooperar para que uma igreja, um corpo seja preparado para Ele.

Procurei ordenar alguns pensamentos, palavras, e experiências a respeito dessa realidade corporativa, o desafio de sermos um, de levantarmos o testemunho do Eterno, de sermos uma resposta ao clamor do próprio Cristo que intercede em favor dos seus discípulos do presente e do futuro: “Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em Mim, por intermédio da sua palavra, a fim de que todos sejam um” (João 17:20-21).

Mesmo escrevendo sobre unidade, não acredito que conseguiremos acabar com as todas as dissensões eclesiásticas, uma vez que até mesmo na eternidade, Deus teve problemas com uma divisão catastrófica, protagonizada por Satanás que significa aquele que se opõe ou adversário. Desde então, Satanás é aquele que “fortalece a atitude de confronto e ferozmente se opõe à idéia de cura e reconciliação. Seu outro nome “diabo” está relacionado com caluniador, que significa mais do que “falar mal de outra pessoa”, mas aquele que coloca alguma coisa ou a si mesmo entre dois a fim de dividi-los”[1].

Acredito que a tensão de pensamentos sempre existirá. Paulo afirma aos irmãos de Corinto, quando exorta sobre a mesa do Senhor, que até mesmo as cismas, divisões e heresias servem para desenvolver e manifestar a verdade de cada um de nós, quem nem sempre é coerente com o que estávamos falando (1 Coríntios 11). A tensão trará à luz aqueles que intimamente e verdadeiramente zelam com o zelo de Deus, pela causa de Deus, relevando questões periféricas para fortalecer os valores essenciais do Evangelho que deverá ser pregado como um testemunho em toda terra como o sinal do fim (Mateus 24.14). Essa é a esperança que não confunde nem decepciona (Romanos 5).

A NECESSIDADE DE UMA RENOVAÇÃO DE MENTE

Acredito que seja momento de desistirmos de muitas das nossas estratégias de unidade, aquela que buscamos por afinidade ou serviço, porque não era essa a dinâmica apostólica do primeiro século e na continuidade da história da igreja. O caminho pode ser começarmos pelo que somos em Deus ao invés do que podemos fazer juntos por Ele, começarmos pela realidade de pertencermos a um só Deus, um Cristo, um Espírito e sermos um povo, um corpo, uma casa Espiritual, que levantam uma bandeira, que é o amor, o oxigênio do Reino, o que nos mantêm vivos na essência da eternidade. Uma unidade que transcende a obra, a posição geográfica, as convenções e movimentos.

Nos frustramos muitas vezes por não conseguirmos mudar nossa realidade relacional, porque criamos expectativas equivocadas e não respeitamos os devidos processos. Queremos começar pela unidade da fé, esperamos que as pessoas creiam no que cremos, como cremos, onde estamos, para que então possamos pensar em nos relacionar, mas segundo Efésios 4, devemos começar revendo nossa posição pessoal procurando andar de modo digno da vocação a que fomos chamados, com “toda” a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz.

Sem essa pré-disposição pessoal de se humilhar, de desarmamento e não resistência, paciência e esforço para preservar a realidade espiritual que representamos, não conseguiremos dar passos concretos para uma realidade corporativa saudável e vivificante. Não se trata de atos proféticos, mas ações proféticas (Comunicam na terra uma realidade eterna), práticas relevantes. A partir da nossa adesão a essa realidade, partilhamos de uma única esperança e vocação, que nos lança a uma realidade de aperfeiçoamento plural, visando o desempenho do serviço de todos os santos, para que alcancemos a verdadeira edificação do corpo de Cristo, de forma integrada, em sua totalidade e não apenas na localidade.

Essa dinâmica possibilitará abraçarmos nosso ideal, ou seja, “até que todos” cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro. Essa disposição pessoal de humildade provará nossa maturidade. Acredito no dialogo e que seja possível que nossas linhas de pensamento possam convergir em Cristo, se completem e cooperem de forma digna com a história da Igreja e não com nossa própria história.

Trabalhamos por uma causa Coletiva para todos, e devemos ter como um dos nossos valores: “O que nos une é mais forte do que o que pode nos separar”. Desejo ser um incômodo na mesma medida que tenho sido incomodado, e quem sabe sejamos empurrados da Cômoda posição de doutores para àqueles que carecem da cura e vitalidade espiritual que se dá pela palavra e a vida do corpo.

Deus é corporativo, e todas as coisas no céu e na terra convergem no Filho que se move através do seu corpo (Efésios 1:10). A autoridade espiritual que almejamos para um movimento relevante na cidade está no corporativo (Efésios 2). A igreja está se movendo em todo o tempo em toda a cidade. A questão é que enquanto for cada um por si e Deus por todos, continuaremos provando que não conseguimos avançar sozinhos. Quando todos se voltarem a Deus e tivermos humildade para pensarmos juntos, estaremos diante de nossas perspectivas, e o pioneirismo, o chamado para entrar e preparar um caminho se tornará mais claro do que nunca. Lembremos sempre que um Reino dividido não se estabelece e se torna lugar desértico (Mateus12.25).

O EXERCÍCIO DE GUARDAR O CORAÇÃO E A MENTE

Você pode colocar dois copos diante de qualquer pessoa, um contendo água barrenta e outro com água cristalina, as pessoas negarão a barrenta e beberão a cristalina. Esse tem sido o problema, porque as escrituras comparam a maldade da amargura com veneno, um copo de água cristalina pode ter veneno, uma figura para aquilo que ouvimos e deixamos contaminar nosso coração porque tem aparência de verdade e justiça (Tiago 3:8 | hebreus 12:15). O veneno é capaz de destruir ou perturbar as funções vitais de um organismo através de uma interpretação deturpada e maldosa, mas sempre com aparência cristalina. “As notícias do conflito são comunicadas em sussurros como quando ouvimos falar que um membro da família tem câncer. E se trata mesmo de um câncer – pois divisão é um sistema de vida maligno, um falso crescimento autorizado pela ira, pelo orgulho e pela ambição, em vez da mansidão e paciência de Cristo. É uma guerra na qual o diabo é o único que realmente vence”[2].

Portanto, não perca tempo, saúde emocional e vida espiritual projetando as suas decepções pessoais na vida das outras pessoas. Tenha coragem de assumir a responsabilidade pelas suas ações ou omissões e tenha humildade e mansidão para recomeçar sempre que necessário. Lembre-se do exemplo de Acabe e Jezabel (1 Reis21). Quando não conseguimos o que queremos, onde queremos e de quem queremos, corremos o risco de nos deixar ser consolados por Jezabel, que nos excita a usurpação de direitos, espiritualidade manipuladora (convocação de jejuns e votos pseudo-espirituais para dar aparência de verdade), testemunho caluniador que visa respaldar a nossa posição e autoridade. Cuidemos com esse tipo de consolo e conselho, guardemos nossa mente e coração.

Devemos abandonar de uma vez por todas, nossa posição altiva de julgamento como se pudéssemos ocupar o lugar de Deus, e fazer separação do joio e do trigo. Precisamos evidenciar a realidade no novo nascimento não conhecendo, nem discernindo pessoas pelas aparências ou até mesmo, erros do passado, mas pelo seu espírito (2 Coríntios 5.17 e seguintes), deixarmos o partidarismo para pensarmos com imparcialidade e sermos agentes de edificação segundo o texto de Isaias 11.3: "Não julgar segundo a vista dos seus olhos, nem responderá segundo o ouvir do seus ouvidos. Ele não vai julgar pelas aparências nem tomar decisões com base em rumores " (Versão RC e A mensagem - Eugene H. Peterson).

 NA TERRA COMO NO CÉU

Acredito na seriedade desse princípio primeiro porque não basta amarmos a obra de Deus, devemos entender que o que Ele faz é a expressão do que Ele É, o que Ele Faz (Reino  como Ação de Deus) é a extensão do que Ele É. Deus é UM em pluralidade. Esse fator é determinante para que não entremos em ilegitimidade ministerial, fazendo algo a partir de outra essência e natureza. A oração intercessora de Jesus é: Que eles sejam um como nós somos, para que o mundo Creia (João 17). Cristo veio para trazer convergência e fazer com que nos movamos na terra a partir da realidade da eternidade, “na terra como no céu”.

Deus quando se move na terra diz: “Façamos”, ou “deçamos” ou “quem há de ir por nós”, a forma dele se mover acontece a partir da sua essência plural. Trata-se de um princípio inegociável que deveria ser a base de todo nosso funcionamento. Enquanto Cristo veio para estabelecer um Reino, e Satanás na tentação mostra sua autoridade sobre os Reinos da Terra. Esse momento pode sinalizar duas realidades distintas. Estamos diante de um dilema, pois a questão não está apenas no que estamos fazendo, mas para quem estamos fazendo, de acordo com a natureza de quem estamos fazendo.

‎Para que Deus possa fazer o mundo ficar pequeno pra nós como igreja universal, global que vê espiritualmente a partir de onde está assentada espiritualmente (influência que a governa), temos que parar de limitar a nossa visão de Reino ao nosso próprio mundo. O Reino é o Governo de Deus sobre o todo, tudo e todos, devemos procurar ver a partir desta perspectiva ampliada, corporativa, espiritual e eterna. O problema não está com o que estamos vendo, mas em acreditar que aquilo que vemos individualmente agora é tudo, que aquilo que estamos fazendo ja é o cumprimento final, ao invés de entendermos que juntos podemos alcançar a mente de Cristo, que nada mais é do que a consciência do Reino para vivermos o cumprimento progressivo e histórico daquilo que estamos vendo juntos. 

Temos que trabalhar por algo que seja maior do que nós mesmos, que vá além de nós e não dependa de nós para que tenha continuidade! Abençoo a todos que nesses últimos doze me influenciaram, sendo referencia na minha formação e desenvolvimento, assim como quero abençoar a todos que foram de alguma forma influenciados pelo nosso serviço, e desejo que possam ir além de onde temos ido, andem de modo digno da sua vocação e alcancem o premio da finalização da corrida, combatendo com lealdade a causa do Reino, tenham um bom combate.

OLHOS ABERTOS PARA UMA NOVA REALIDADE

Refletindo sobre a experiência de Atos 9, penso que quando tivermos a visão de Cristo, cada um de nós perderá sua própria visão ministerial e dependeremos uns dos outros para voltar a ver claramente. Enquanto Paulo orava sobre a visão que o cegou, o corpo vivo de Cristo se movimentava para o ajudar a voltar a ver, a encontrar o seu caminho e o chamado de Deus para sua vida. Essa dinâmica é fantástica, de beleza imensurável. Com base nesses exemplos neo testamentários, oro para que “Ananias e Pedros” continuem se convertendo a Deus para que possam ser tocados os “Paulos e Cornélios” da várias cidadese, homens idôneos que precisam de uma intervenção do corpo para serem ativados.

Só é possível “ver” a igreja de forma corporativa a partir da palavra e do testemunho de Jesus. (Apocalipse1). A visão da localidade que não se dá a partir da visão da totalidade, da visão de Cristo, pode se tornar míope, limitada e distorcida. João só pôde ver a realidade da igreja em cada cidade depois que viu a Cristo, confirmando que na vida da igreja reconhecemos a expressão de Cristo na cidade.

Fraternalmente em Cristo
Anderson Bomfim

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