quinta-feira, março 22

Os corajosos poderiam se levantar, por favor!? - Sandro Baggio



Não há como não se emocionar ao assistir os momentos finais do filme Coração Valente, quando William Wallace está sendo torturado diante de uma multidão de curiosos, e seu carrasco quase que roga para que ele peça por misericórdia. Em vez disso, Wallace reune o que lhe resta de força e brada: “Liberdade!”
William Wallace não estava tentando ficar famoso ou escrever seu nome na história. Mas quando surgiu um momento decisivo, ele seguiu sua consciência e lutou pela liberdade do seu povo com bravura e coragem.
Vivemos hoje momentos decisivos na história da Igreja (pelo menos da sua ala Protestante Evangélica). Em quase todo o mundo, pessoas estão cada vez mais cansadas do que vêem sendo feito e pregado em nome do Cristo. Igrejas que se transformaram em verdadeiros partidos políticos e impérios pessoais. Líderes megalomaníacos que seduzem, manipulam e dominam rebanhos incapazes de discenir a mão direita da esquerda. Pastores envolvidos em escândalos financeiros, morais e políticos que apelam para teorias de perseguição religiosa em vez de se arrepender e voltar ao primeiro amor. Crentes mornos, sem paixão pela verdade, vivendo uma espiritualidade do templo completamente desconectada com o restante de suas vidas. Precisamos de uma nova Reforma, desta vez no seio no Evangelicalismo.
Francamente, estou cansado de ouvir pessoas dizendo: “Deus está no controle”, “A Igreja é de Deus” e “Nós devemos orar”, quando sua liderança maior está envolvida em escândalos, esquemas politicos e evidentemente enamorada com o poder.
Sim! Sim! E sim! Deus sempre está no controle! Ele é o Senhor da Igreja! E, definitivamente, devemos orar!
Lutero acreditava em todas estas coisas, mas ele não ficou calado quando a Igreja de seus dias estava mergulhada na política, venda de indulgências e poder papal. Ele agiu! É por isso que a história do Cristianismo foi mudada. É por isso que temos uma igreja livre do papado e de Roma hoje e podemos ler a Bíblia em nossa própria língua. Não deveríamos ter a mesma atitude se realmente queremos uma igreja renovada para nós, nossos filhos e para as gerações vindouras? Se não estamos contentes com a política na igreja (e com a política eclesiástica) que temos hoje, será que não deveríamos começar a fazer algo em relação a isso agora, antes que seja tarde demais?
Deus estava no controle durante a Segunda Guerra Mundial, enquanto Hitler dizimava seis milhões de judeus. Muitos pastores e líderes cristãos ficaram calados. Nós nem sequer ouvimos falar sobre eles. Sua atitude não nos inspira. Na verdade, podemos até pensar deles com um certo descaso, por causa de sua complacência e comprometimento com o sistema nazista. Mas quando pensamos naquela época, somos inspirados por pessoas como Corrie ten Boom e sua família, que decidiram não assistir à matança calados, ainda que acreditassem na autoridade e soberania de Deus sobre a situação. Eles agiram, arriscaram suas vidas, não se curvaram diante do sistema com a desculpa de que deveriam obedecer cegamente às autoridades.
Assim como eles, o jovem pastor luterano Dietrich Bonhoeffer também não ficou calado. Nós não ouvimos sua história hoje por causa de sua teologia. Ele tem sido uma inspiração em nosso tempo justamente porque decidiu enfrentar os desafios de seu tempo, ainda que isso tenha lhe custado a liberdade e, por último, sua própria vida.
Deus estava no controle quando negros estavam sendo tratados como animais no sul dos Estados Unidos. O também jovem pastor batista Martin Luther King acreditava na soberania de Deus, mas mesmo assim ele decidiu confrontar o racismo e se manifestar por igualdade de direitos civis. Suas manifestações pacíficas foram acusadas de promover distúrbio da ordem. Sua família foi ameaçada, ele foi perseguido e morreu sonhando com uma sociedade mais justa. Foi porque ele não ficou calado que seus filhos e netos podem hoje viver o que ele sonhou e um negro tem chances reais de se tornar Presidente dos Estados Unidos.
Martin Luther King disse: “O que me preocupa não é o grito dos maus. É, sim, o silêncio dos bons.”
O que dizer do jovem pastor de ovelhas, filho de Jessé? Ele poderia ter se escondido atrás da desculpa: “Esse problema não é da minha conta”, quando ouviu Golias desafiar os exércitos de Israel. Ele poderia ter dito: “Eu não sou soldado.” Ele poderia ter dado qualquer desculpa para não se envolver na luta. E, se tivesse feito isso, nós não estaríamos ouvindo sobre ele ainda hoje. O que mais gostamos de contar para nossos filhos sobre Davi não é sobre seu reinado glorioso. O que inspira nossas vidas e nossos filhos é que ele enfrentou o desafio de seu tempo, mesmo que não fizesse parte do exército de Israel. Será que podemos sequer pregar sobre Davi, se nós mesmos não estamos dispostos a nos envolver e enfrentar os desafios que temos diante de nós para uma Igreja melhor hoje?
E o que dizer de Sadraque, Mesaque e Abedenego, jovens companheiros de Daniel no exílio Babilônico? Eles poderiam simplesmente ter se curvado diante da estátua de ouro sob a desculpa de ter que obedecer as autoridades superiores. Mas não foi isso que fizeram. Pelo contrário, eles escolheram obedecer a Deus em vez de se curvar diante de homens ambiciosos e seus ídolos dourados. É por isso que a história deles nos inspira hoje, não é mesmo? Gostamos de ensiná-la nas escolas bíblicas para incentivar nossas crianças e jovens a não se curvarem diante do sistema do mundo, não se renderem às tentações, não cederem às pressões a sua volta. Sugiro que, a menos que estejamos dispostos a não nos curvarmos diante do sistema religioso profanado pela política e embriagado pelo poder, devemos parar de ensinar essa história em nossas igrejas e escolas bíblicas.
Quando a história da Igreja de nossos dias for escrita, o que será dito a nosso respeito? Como seremos retratados? Será como homens e mulheres de coragem e honra, dispostos a confrontar as potestades, arriscar nossa segurança e nos empenhar por uma igreja melhor, livre da política e do evangelho deturpado da prosperidade? Uma igreja comprometida com a Missão de Deus no mundo?
Será que podemos ouvir ecos do que disse Mordecai?
“Se você se calar, Deus levantará socorro de outro lugar… Mas quem sabe não foi para um momento como este que Deus lhe colocou aqui?”
Estamos dispostos a responder como a jovem Ester?
“Ore por mim… Eu falarei, não me calarei… Se perecer, pereci.”
A geração de cristãos comprometidos com o Evangelho de Cristo poderia se levantar, por favor?

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