quinta-feira, março 29

Falsos Apóstolos - João Calvino (1509-1564)



Pois tais homens são falsos apóstolos, obreiros enganadores, transfigurando-se em apóstolos de Cristo. E não é de estranhar; porque até mesmo Satanás se transfigura em anjo de luz. Portanto, não é de mais que os seus ministros também se transfigurem em ministros da justiça; o seu fim será conforme suas obras. (2 Co 13-15).

13. Pois tais homens são falsos apóstolos . Embora já tenha refutado a principal alegação de seus oponentes, Paulo não fica satisfeito em mostrar que era igual a eles no ponto em que reivindicavam excedê-lo, porém os deixa sem nenhum crédito. Dispensar dinheiro parecia altamente louvável, porém ele diz que no caso deles era um subterfúgio decepcionante, tal como uma meretriz que toma por empréstimo os vestidos de uma honrável mulher casada. Era preciso arrancar a máscara que procurava obscurecer a glória de Deus. Ele os denomina de obreiros enganadores, ou seja, eles não revelavam sua impiedade à primeira vista, mas habilmente se insinuavam sob algum pretexto justo.

Por isso eles devem ser cuidadosa e totalmente examinados a fim de ficarmos prevenidos, não aceitando-os como autênticos servos de Cristo, porque, à primeira vista, eles têm uma demonstração superficial de excelência. Paulo não está lançando uma construção desfavorável sobre virtudes reais fora de motivos de malícia e ciúme, mas, antes, é forçado pela desonestidade de seus oponentes a exibir o mal subjacente, porque havia uma ameaçadora profanação da virtude em suas falsas pretensões a serem inflamados com maior zelo do que todos os servos de Cristo.

14. E não é de estranhar. Este é um argumento do maior para o menor. Se Satanás, o mais depravado de todos os seres e, portanto, o cabeça e chefe dos homens maus, pode transformar-se, o que farão seus ministros? Temos experiência de ambas estas coisas, todos os dias, pois quando Satanás nos tenta para o mal, ele não declara ser o que realmente é. Ele nada conseguiria se tivéssemos consciência de ser ele o nosso inimigo mortal e o destruidor de nossa salvação. Por isso ele sempre se cobre com algum disfarce a fim de nos enganar e não nos revelar de imediato seus chifres, segundo o dito comum, senão que, antes, se esforça para aparentar-se um anjo de luz. Mesmo quando nos conduz a crimes grosseiros, ainda usa algum pretexto plausível para baixar nossa guarda e lançar-nos em suas redes. Ele nos ataca sob o disfarce do bem, e ainda no próprio nome de Deus.

E seus adeptos, como já disse, seguem os mesmos métodos de seu mestre. Estes são preâmbulos de ouro: servos dos servos de Deus, porém, quando a máscara é removida, quem e o quê se descobrirá ser? Satanás mesmo, seu mestre, dificilmente excederá seu mais rematado discípulo em qualquer tipo de abominação. Há um bem conhecido dito sobre Babilónia, ou seja, que ela oferecia veneno numa taça de ouro. Por isso, estejamos em guarda contra as falsas aparências. Porém, pode-se perguntar se isto significa que devamos considerar a todos com suspeita. Esta não foi certamente a intenção de Paulo. Mas há formas de discriminação entre as pessoas que não é sábio ignorar.

O que Paulo queria era chamar a atenção para este fato, de modo que não julguemos imediatamente um leão por sua pele, pois se não formos precipitados em nosso julgamento, o Senhor nos fará ver que logo as orelhas surgirão. Por este motivo ele desejava advertir-nos, para que a nossa avaliação dos servos de Cristo não tivesse por base as aparências externas, mas pela observação de elementos de maior importância. Ministros da justiça é uma forma hebraística de se expressar, que significa ministros fiéis e justos.

15. 0 seu fim será. Ele adiciona isto para o conforto do fiel. É a declaração de um homem corajoso que despreza os tolos julgamentos dos homens, e espera pacientemente o dia do Senhor. Ao mesmo tempo em que mostra que ele possui uma consciência singularmente ousada em não temer o juízo divino.

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