terça-feira, maio 29

A Ironia Cessacionista



É proibido profetizar ou falar em linguas
"É proibido profetizar ou falar em linguas"
Para quem não está familiarizado com o termo, “cessacionista” é aquele que crê que certos dons espirituais como linguas, profecia, cura e milagres cessaram com a morte dos primeiros apóstolos. Esta linha teológica se propõe a refutar a validade dos dons espirituais (no gregocarisma) listados nas Escrituras para os dias de hoje.
Como ex-batista e leitor de cessacionistas como John MacArthur (autor de O Caos Carismático e do artigo aqui publicado intitulado O Âmago da Verdadeira Ética), tenho o maior respeito por estas pessoas. Em tempos em que a Igreja está sendo infestada pelo liberalismo teológico, precisamos do sólido Fundamento que estes irmãos pregam, que é Cristo crucificado, e de sua ênfase na inerrância das Escrituras. Em momento nenhum questiono sua fé, devoção ou sinceridade diante do Senhor. No entanto, quando o assunto é dons espirituais, os conservadores deixam a desejar. Apesar de seu forte apelo intelectual, o cessacionismo se embasa em frágeis postulados que não se sustentam diante de um exame minucioso das Escrituras.
O cessacionismo é fruto de um gradual declínio histórico da Igreja (que culminou no Milênio das Trevas), não é um ensinamento apostólico. Não é bíblico.
Se trancássemos uma pessoa em um quarto de seis meses a um ano e lhe déssemos uma Bíblia para ler, no fim deste período, quando saísse do quarto, esta pessoa estaria crendo na validade e no exercício de dons carismáticos como linguas, profecia e cura. Absolutamente ninguém que leia somente a Bíblia (Sola Scriptura) chegará à conclusão de que os dons espirituais cessaram. Toda e qualquer especulação quanto ao fim do carisma não é embasada nas Escrituras, e sim em uma tradição anti-carismática que se cristalizou na Igreja ao longo dos anos, na História pós-canônica.
Esta é a ironia cessacionista: se você confrontar um conservador usando 1 Corintios 14:39, onde encontramos o mandamento apostólico de “não proibais o falar em línguas”, ouvirá de sua boca que esta Escritura já não vale para os dias de hoje. Se um carismático vai na TV e diz que algum outro trecho das Escrituras já não é válido para os dias atuais, os conservadores entoarão em coro a palavra “herege”. No entanto, por alguma razão, os mesmos conservadores pensam que podem cometer a mesma atrocidade.
Ironicamente, os cessacionistas são os primeiros a colocarem data de expiração em certas Escrituras, e depois criticam os cristãos liberais que defendem o homossexualismo utilizando-se da mesma prática.
É irônico que os conservadores com orgulho entoem a bandeira do Sola Scriptura, mas precisem incorporar elementos extra-bíblicos da tradição humana em sua teologia, para somente assim poder sustentar o postulado cessacionista.
Ironicamente, os conservadores criticam os católicos por sua devoção ao papa, mas abraçam os extremos anti-carismáticos dos reformadores, chamando de herege qualquer um que não reze a apostila doutrinária de Calvino ou Lutero.

Teologia Empírica

Ironicamente, os conservadores criticam aqueles que embasam sua ortodoxia na experiência de seus cinco sentidos ao invés de fundamentá-la nas Escrituras. Entretanto, adotam um sistema fechado de crenças que, na questão do carisma, não se fundamenta nas Escrituras mas somente na má experiência de viver na estiagem da era pós-moderna (em que o sobrenatural é raro), ou na má experiência de testemunhar as meninices de alguns ícones no meio carismático (como Benny Hinn e Cia Ltda).
De fato os carismaníacos não são os melhores agentes de Relações Públicas a favor da validade e do livre exercício do carisma na Igreja, mas não obstante, as Escrituras nos dão testemunho daquilo que é verdadeiro. Excessos devem ser tratados com cuidado pastoral, a exemplo do que fez Paulo em Corinto, mas jamais com ceticismo.
Eliminar a prática dos dons espirituais de nossa ortodoxia por causa dos abusos carismáticos é tão imprudente quanto o médico que manda amputar o pé de seu paciente por causa de uma unha encravada.

Que o Senhor nos ajude a encarnar o mistério entre Cristo e a Igreja (Ef 5:32) e que possa encontrar uma Casa onde tenha liberdade para se manifestar na plenitude de sua glória entre os santos, que são os membros de seu Corpo.
© Pão & Vinho
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