quinta-feira, abril 12

Manuseando a Palavra de Deus de maneira enganosa - C. H. Spurgeon




Aceitamos a obrigação de pregar tudo que está na Palavra de Deus, de modo definido e distinto. Será que não há muitas pessoas que pregam sem significado claro, manuseando a Palavra de Deus de maneira enganosa? Você freqüenta o ministério deles durante anos e não sabe no que crêem. Ouvi falar de certo pastor cauteloso, a quem um ouvinte perguntou: "Qual é sua visão da expiação?". E ele respondeu: "Meu caro senhor, justamente isso, eu nunca contei a ninguém, e não vou dizer agora". Essa é uma estranha condição moral para a mente de um pregador do evangelho. Temo que ele não seja o único que tem esse tipo de relutância. Dizem que eles consomem sua própria fumaça, isto é, guardam suas dúvidas para o consumo caseiro. Muitos não ousam dizer no púlpito o que dizem sub rosâ (em particular) em uma reunião particular de pastores. Isso é honesto?

            Temo que aconteça com alguns o mesmo que se deu com um professor de uma cidade do sul dos Estados Unidos. Um grande professor negro antigo, Jasper, ensinara seus alunos que o mundo é plano como uma panqueca, e que o sol o circula todos os dias. Não tivemos essa parte de seu ensino, mas certas pessoas sim, e um deles foi com seu filho até o professor e perguntou: "Você ensina às crianças que o mundo é redondo ou plano?". O professor cautelosamente respondeu: "Sim". O indagador ficou confuso, mas pediu uma resposta mais clara: "Você ensina seus alunos que o mundo é redondo ou que é plano?". A resposta do professor estado-unidense foi: "Isso depende da opinião dos pais". Desconfio que mesmo na Grã-Bretanha, em alguns poucos casos, muito depende da tendência do diácono principal, ou do contribuinte principal ou do jovem de ouro da congregação. Se isso acontece, o crime é repugnante.

            Mas se por essa ou qualquer outra razão ensinamos com língua dissimulada, o resultado é extremamente prejudicial. Ouso citar aqui uma história que ouvi de um amado irmão. Um pedinte bateu à porta da casa de um pastor para conseguir dinheiro com ele. O bom homem não gostou muito da aparência do pedinte e lhe disse: "Eu não me interesso por seu caso e não vejo nenhuma razão especial por que você deva vir a mim". O pedinte respondeu: "Estou certo que você me ajudaria se soubesse que grande benefício tenho recebido de seu ministério abençoado". O pastor retrucou: "E qual foi?". O pedinte respondeu: "Ora, senhor, quando eu primeiro vim ouvi-lo não ligava nem para Deus nem para demônio, mas agora, sob seu abençoado ministério, passei a amar os dois". Que maravilha se por causa da fala volúvel de alguns homens, as pessoas viessem a amar tanto a verdade como a mentira! As pessoas dirão: "Gostamos dessa doutrina e da outra também". O fato é que gostariam de qualquer coisa caso um enganador esperto pusesse isso plausivelmente diante deles. Admirariam Moisés e Aarão, mas não diriam uma palavra contra Janes e Jambres.

            Não nos uniremos à confederação que parece visar tal compreensão. Precisamos pregar o evangelho de modo tão distinto que as pessoas saibam o que estamos pregando. "Se a trombeta não emitir um som claro, quem se preparará para a batalha?" (1Co 14.8). Não confunda seu povo com falas duvidosas. Alguém disse: "Bem, eu tive uma idéia nova um dia desses. Não a expandi; joguei-a fora!". Essa é uma coisa boa para fazer com a maioria de suas idéias novas. Lance-as fora, sim, de qualquer maneira, mas veja onde você está quando o faz; porque se você lançá-las do púlpito, podem acertar alguém e ferir a fé da pessoa. Lance fora suas idéias, mas primeiro navegue sozinho em um barco por mais de um quilômetro mar adentro. Depois que você tiver jogado ali suas cruas bagatelas, deixe-as com os peixes.

            Hoje, temos a nossa volta uma classe de homens que pregam Cristo e até o evangelho, mas depois eles pregam muitas outras coisas que não são verdade e assim destroem todo o bem que entregam e levam os homens ao erro. Eles querem ser classificados como "evangélicos" e, na verdade, são antievangélicos. Olhe bem para esses senhores. Ouvi dizer que uma raposa, quando acossada de perto pelos cães sabe fingir que é um deles e corre com a matilha. Isso é o que certos homens visam hoje: as raposas querem passar por cães. Mas no caso da raposa, seu cheiro forte a trai, e os cães logo a descobrem, do mesmo modo, o cheiro da doutrina falsa não é facilmente ocultado, e a presa não a segue por muito tempo. Há ministros que é difícil saber se são cães ou raposas; mas todos os homens devem saber de que espécie somos ao longo de nossa vida e não ter dúvida em relação àquilo que cremos e ensinamos. Não hesitemos em falar nas palavras mais robustas que possamos encontrar e nas sentenças mais claras que pudermos formar aquilo que mantemos como verdade fundamental. 

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