segunda-feira, abril 9

Astutos como serpentes: como lidar com a cultura pop





por Ted Turnau
Por que e como os cristãos devem lidar com a cultura popular
Uma dos assuntos que perenemente persegue a igreja cristã é a questão de como se relacionar com a cultura que nos rodeia, em especial, a cultura pop. Devemos nos separar dela, a fim de preservar nossa pureza? Ou deveríamos seguir a corrente, para que possamos nos relacionar melhor com as pessoas imersas na cultura? Ambas as opções têm pontos fortes – manter a pureza é essencial, assim como relacionar-se com aqueles que não têm lugar para Cristo em suas vidas. Porém, as duas erram o alvo, biblicamente falando. A Bíblia não apoia nem a rejeição radical da cultura, nem uma aceitação acrítica dela. Devemos ser tanto astutos (prudentes) como serpentes quanto simples como pombas (Mt 10.16), tanto envolvidos com nossa cultura quanto distintos dela. Dificilmente poderia ser de outra forma.
Se as pessoas que buscamos estão imersas na cultura, em sua cosmovisão e adoração, então obviamente devemos entender esta cultura se quisermos falar às preocupações de seus corações. Mas, obviamente também, não podemos simplesmente engolir acriticamente a cultura ao nosso redor, de maneira que nos misturemos a ela, como camaleões. Não podemos simplesmente compartilhar seu sistema de vida e adoração, porque não teríamos nada de diferente para oferecer. Como mantemos esse equilíbrio? Devemos intencional e criticamente lidar com a cultura ao nosso redor, especialmente aquela que tem o maior impacto: a cultura popular. Aqui vão alguns poucos pontos práticos sobre o envolvimento cristão com a cultura pop.
Não importa o que a cultura pop seja, não é trivial, pois é uma expressão de fé e adoração
Não muito tempo atrás, assisti o drama de Andrea Arnold, Fish Tank (2009). A personagem principal, a jovem e frustrada Mia, vive para dançar hip-hop. Sua vida é impregnada com seu ritmo, com suas letras de desespero urbano. Em certo sentido, seus ensaios de dança são uma forma de adoração, seu entendimento de salvação. É o mesmo com toda cultura popular: elas são todas, em última análise, formas de adoração. Precisamos vê-las como expressões de fé e das cosmovisões não-cristãs. A cultura pop é, nesse sentido, como um campo missionário na sua cidade.

Dr. Horrible, de Joss Whedon
Nem tudo da cultura pop é igualmente significante
Mesmo pensando que a cultura popular não é trivial (que representa uma forma alternativa de adoração e fé), alguns elementos dela são mais dignos de atenção que outros. Muito da cultura pop pode ser efêmero, como bolhas em um refrigerante. Mas existem outras obras que tem uma profundidade real, uma permanência real. Se você estiver bem informado sobre a isso, descobrirá alguns poucos artistas que têm a habilidade de realmente ir fundo no espírito deste tempo. Thom Yorke, da banda Radiohead é um desses, assim como o escritor/produtor de TV Joss Whedon (criador de muitas séries de ficção científica e fantasia), ou David Simon (criador de The Wire). Preste atenção em músicos, escritores e diretores que fazem diferença. São esses que produzem obras de profundidade e significância. Eles poderiam ser chamados de “líderes culturais”. Eles preparam o caminho que o resto da cultura segue.
Nem toda obra da cultura pop é apropriada para interação
Se devemos ser sábios como serpentes e permanecer inocentes como pombas, precisamos ser cuidadosos para não colocar-nos (ou nossas crianças) no caminho da tentação. Regras estritas não são tipicamente úteis nesse assunto. Ao invés disso, precisamos conhecer os ídolos do coração a que nos atraímos, onde somos fracos, o território que deve permanecer cercado para nós. Também precisamos pensar em questões como a faixa etária apropriada, que será diferente para crianças diferentes. É importante envolver-se com a cultura popular, mas não podemos fazer isso a ponto de comprometer nossa caminhada com o Senhor.

The Wire
A cultura pop funciona criando mundos imaginários para que habitemos
A cultura popular não funciona empurrando uma mensagem, mas apelando para a imaginação. Um programa de TV não passa simplesmente uma mensagem, tipo “A vida não tem sentido, então se divirta enquanto pode”. Pelo contrário, ele conta uma história em que alguém descobre a “verdade” dessa mensagem; ele conta em um estilo que sublinhe essa mensagem, e nos convida para essa jornada. A cultura popular funciona indiretamente, sugestivamente, não como um slogan de campanha política, mas como uma poesia ou uma canção. Ela te atrai e entra em você. Portanto, devemos ser intencionais ao lidarmos com a cultura popular, de maneira que entendamos seus efeitos na imaginação (incluindo as imaginações de nossos amigos e vizinhos).
Quando pensamos sobre uma obra da cultura pop, é importante conhecer como ela é feita
Envolver-se com a cultura popular significa explorar o mundo da imaginação, explorar os detalhes das histórias que ela conta, os estilos que são exibidos ou disfarçados. Isso significa que você deve tentar entender como os produtores de cultura fazem o que fazem. Se você está refletindo sobre um filme, pense em coisas como iluminação, enquadramento, seleção de cenas, música, e por aí vai. Se você está pensando sobre uma música, preste atenção nos acordes, ritmo, gênero, instrumentos, tanto quanto nas letras. Ao dar atenção a esses detalhes, você se familiariza com o mundo imaginário em que essa obra te convida a habitar.
Toda obra da cultura pop é uma mistura complicada de graça e idolatria
Não existe obra da cultura popular tão banal ou distorcida que não contenha um relance da graça de Deus. E não há obra da cultura popular tão pura e profunda que não contenha um convite à idolatria. A cultura pop tem apelo junto aos não-cristãos por uma razão, a saber, eles sentem um pouco da beleza, poder e bondade de Deus nela. Isso é o que os teólogos chamam de “graça comum” – fragmentos da graça de Deus que se espalham a todos – mesmo àquele que nunca crerão. Como Paulo diz em Atos, esses dons de Deus são “testemunhos” do ser e do caráter de Deus (cf. At 14.17). A cultura popular contem esses “fragmentos de graça” entrelaçados no tecido de músicas, filmes, programas de TV, livros, etc.. Porém, na cultura pop não-cristã, esses fragmentos de graça estão inclinados para servir falsos deuses. De fato, os ídolos apresentados na cultura popular tornam-se persuasivos para os não-cristãos (e algumas vezes, cristãos) precisamente pela atração desses relances da graça de Deus.

Avatar
Por exemplo, o sucesso de James Cameron, Avatar (2009), ganhou merecidamente prêmios por seus efeitos visuais fantásticos. A arte digital nos deu um mundo alienígena belo e fascinante, povoado por criaturas realistas e maravilhosas. Isso nos serviu para lembrar das criaturas reais e maravilhosas que Deus fez. Nesse sentido, o filme serviu como uma reflexão da habilidade criativa de Deus e, em última análise, da beleza e do poder do próprio Deus. Porém, o filme inclina esse fragmento de graça a serviço de uma adoração de natureza pagã (a divindade “Eywa”). De maneira semelhante, toda obra atrativa e significante obtém êxito ao cativar sua audiência com reflexões da beleza de Deus, enquanto põe esses fragmentos de graça a serviço de outro deus.
Pense cuidadosamente sobre como destruir o ídolo, e como o Evangelho se aplica à obra que você está compartilhando com amigos.
A cultura pop frequentemente usa os “fragmentos de graça” para direcionar a imaginação para um ídolo. Pense maneiras em que o ídolo mostra-se inapropriado e falso, e como a cosmovisão cristã e as riquezas do Evangelho oferecem uma alternativa melhor.
Procure ocasiões em que você possa experimentar a cultura pop junto com amigos e família (tanto cristão quanto não-cristãos).
Minha esposa e eu promovemos quinzenalmente uma noite de discussão de filmes com meus alunos. Talvez você não queira fazer algo tão formal, mas você deveria procurar oportunidades de experimentar a cultura junto com pessoas queridas. Escute a música que seus filhos ouvem. Veja um filme com os amigos. Convide amigos para o jantar e assista alguns episódios de sua série de TV favorita. Abra sua casa e sua vida e compartilhe-as com família, amigos e vizinhos.
Se pensarmos cuidadosamente sobre a cultura pop ao nosso redor, podemos desenvolver a sabedoria bíblica que nem despreza nem aceita cegamente. Uma sabedoria que está “no mundo, mas não é do mundo” pode ser muito atraente para os não-cristãos que precisam de Cristo, mas não podem ver que diferença Ele faz. Ao envolver-se com a cultura popular, você pode falar de Cristo em uma linguagem familiar a eles. E isso pode fazer toda diferença.
Traduzido por Josaías | iProdigo.com | Original aqui

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